Um assalto em casa abalou a vida de Renata Rizzi quando ela tinha 17 anos. Ela foi feita refém e sofreu várias formas de violência. Depois, o sofrimento continuou: veio a síndrome do pânico, a depressão, o terror noturno...


Um dia, teve contato com estatísticas chocantes no Mapa da Violência 2015 elaborado pela Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais) com apoio da ONU:  55% dos feminicídios no Brasil ocorriam no ambiente doméstico; e em 33% dos casos, o assassino era o companheiro ou ex-companheiro da vítima. 


“Depois daquele único dia violência, fui totalmente acolhida pela minha família, isso foi essencial. E fiquei pensando: como fazem essas mulheres que correm risco diariamente dentro de sua própria casa, que deveria ser um lugar seguro e de acolhimento?” 


Então veio a vontade de proporcionar acolhimento para quem vive cotidianamente em risco, a partir da experiência que já tinha com a moda. Renata costurou uma parceria com a Associação Fala Mulher, de acolhimento a vítimas de violência doméstica. As mulheres começaram a ter aulas semanais de técnicas têxteis, como tingimento e bordado e, ao concluírem as oficinas, eram convidadas a produzir para a marca, sendo remuneradas por peça.  


O grupo é diverso — mas todas têm um ponto em comum: a violência que sofreram. Durante os encontros, elas conversam, compartilham suas histórias, se apoiam e fazem amizade. Algumas não fazem mais parte do time porque conseguiram um emprego fixo, o que passou a ser uma meta da empresa: reinserir as mulheres no mercado de trabalho. 


Além desse trabalho social incrível, sempre que possível a utopiar busca minimizar o impacto negativo sobre o meio-ambiente, usando processos e matérias-primas pelos princípios da sustentabilidade. Desenvolveram, por exemplo, uma técnica de tingimento que zera o desperdício de água e privilegiam o uso de tecidos orgânicos, reciclados e/ou certificados.


As peças são atemporais e despretensiosamente sofisticadas. São quimonos, camisetas, shorts, moletons, lenços. Cada uma traz uma etiqueta identificando a mulher que a produziu com seu codinome – o nome de uma flor – preservando sua identidade por questão de segurança: “Sua compra faz com que mais mulheres floresçam. Essa peça foi beneficiada pela Lavanda.” No site da marca, é possível conhecer um pouco da história de cada uma.



Em 2019, a utopiar foi a única brasileira entre 22 selecionadas para a aceleração da Yunus & Youth, incubadora de negócios sociais. No mesmo ano, Renata conheceu Natália Seibel, que se tornou sua sócia. Somos fãs!!